domingo, 2 de agosto de 2009

Victor Aquino, secretário de Planejamento de São João da Barra, concede entrevista ao Monitor Campista


Histórico – Victor Aquino é natural de Campos, formado em Arquitetura em 1980 no Rio de Janeiro. Logo depois, ele retornou à cidade natal, onde projetou alguns prédios, como o Renato Pontes Barreto que, inicialmente, seria um hotel, entre outros trabalhos. Seguiu para a Bahia, permanecendo por quatro anos, retornando em 90 para o Rio, onde se especializou em Arquitetura Hospitalar. Há pouco mais de um ano, ele assumiu a Secretaria de Planejamento de São João da Barra.

Empreendimento projetado para ser o maior do país e sexto ou sétimo no mundo, o Porto do Açu e todo o complexo industrial a ser instalado ao redor, promete revolucionar o município de São João da Barra e região. Segundo o secretário de Planejamento de São João da Barra, Victor Aquino, cerca de US$ 3 bilhões serão investidos pelas empresas nos próximos 15 anos e pelo menos 50 mil empregos serão gerados de forma direta, o que dá a estimativa de mais 250 mil pessoas na região. Em entrevista ao Monitor Campista, ele comenta, ainda, sobre os projetos do município a médio prazo e da falta de consciência na população para enfrentar a alavanche de desenvolvimento e o crescimento já a partir de 2012.

Monitor Campista – Qual o diferencial do porto que está sendo construído no Açu, em São João da Barra?
Victor Aquino - O porto que será instalado, no mundo, só tem seis do mesmo porte. É único no Brasil, no Atlântico e talvez o sexto ou sétimo do mundo. Temos o Porto de Santos, o maior do Brasil, onde 1/3 da economia do país passa por lá. Só que no Porto de Santos você não tem essa área ao redor com indústrias, como nós vamos ter. Essa é a diferença. Então, no Porto do Rio, de Vitória, Santos, Salvador, Recife, Paranaguá, são portos que envolvem apenas uma cidade. Aqui vai ser diferente. Você vai ter um distrito industrial de porte.

Por que no Açu?
Pois é. Só tem dois lugares no Brasil que caberia um porto dessa envergadura, por questões de calado (a profundidade no nível do mar até ao fundo). No Brasil, tem aqui e no Maranhão. Só que no Maranhão, a variação de maré chega a 9 metros. Então, vai chegar a hora que não vai poder entrar porque a maré está baixa. O navio não vai poder sair porque a maré está baixa. E com outro agravante, o de não estar próximo aos centros produtores como São Paulo, Minas, Rio.

Qual a dimensão de todo esse complexo?
Vejamos o exemplo de Volta Redonda, feita em volta de uma siderúrgica, a CSN. Aqui, vamos ter duas siderúrgicas, duas termelétricas, uma indústria automobilística, duas fábricas de cimento e as montadoras que vêm ao redor dessa indústria automobilística.

Recentemente, uma comitiva formada pela prefeita Carla Machado, o governador Sérgio Cabral e o empresário Eike Batista esteve na China onde visitaram algumas fábricas de veículos. Essa indústria automobilística seria chinesa?
A princípio seria sim e, provavelmente, carro elétrico. A grande vantagem que eles querem é estar no Estado do Rio. Porém, se eles quiserem vir com muita rapidez, não estará pronto aqui para recebê-los. Aí, teria que levá-los para outro lugar do estado. Se eles puderem aguardar uns dois anos, porque uma indústria não faz da noite para o dia, eles podem vir para o lado de cá. A vantagem daqui é que vai ter uma siderúrgica, do lado, fabricando chapas de aço. Nós temos um problema que o Brasil é um dos maiores produtores de aço, mas se quiser construir navio como a gente faz, o aço é importado. Nós não temos chapas de aço com bitola para navio, que aqui será feito. Então, tudo que a gente não tem, queremos passar a ter. Outro grande barato da história, é que tendo uma profundidade maior, você pode trazer os maiores navios do mundo. Hoje, o Brasil não tem nenhum porto com capacidade para receber os grandes navios, que precisam de 20 a 21 metros de calado. No Porto de Santos, o calado é de 18 metros. Aqui, tem um calado de 13 a 18, mas que vai ser dragado de 20 a 23. Os grandes navios do mundo, de 250 toneladas, vão poder aportar aqui.

E o por que não aumentar o calado do Porto de Santos?
Lá não dá para dragar, porque o fundo é lama. Então, quando draga, a lama cai. E aqui é areia. Com isso, o canal permanece por mais tempo dragado. Todo porto é dragado. Isso é o normal no mundo inteiro.

Já existe uma perspectiva de quanto em investimentos seriam investidos no complexo portuário, incluindo a instalação das indústrias?
Os investimentos seriam de US$ 36 bilhões de dólares. Para ter uma ideia da quantia em dinheiro, vamos dar o exemplo de Campos, a cidade do Brasil que mais recebe royalties, há mais de 10 anos, mas ainda não atingiu US$ 10 bilhões de dólares. No Porto, serão US$ 36 bilhões, três vezes mais, em 15 anos, com a vantagem de ser investimento real nas indústrias que vão gerar emprego.

O senhor tem a previsão aproximada dos empregos que seriam gerados na região?
A expectativa é que, com tudo implantado, gere em torno de 50 mil empregos diretos. A população de São João da Barra, hoje, é de 30 mil habitantes. Eu vou ter 50 mil empregos. E se você partir do princípio que o chefe de família tem mulher e dois filhos, em média, daí a previsão é de ter mais ou menos 250 mil pessoas chegando em São João da Barra. Só que isso reflete em Campos, que, a reboque, também irá receber em torno de 250 mil pessoas. Então, de 433 mil habitantes, segundo o IBGE, vai pular para uns 705 mil habitantes.

Quando o senhor fala em mais 250 mil pessoas, significa que essa mão de obra viria de fora?
Não. O emprego viria daqui, mas você vai ter gente que vem de fora, morando em Campos. Nesses 50 mil empregos diretos, vão ter pessoas trabalhando em Campos e outras pessoas que vêm para serviços. Porque não tem só quem vai trabalhar na siderúrgica. Por exemplo, a LLX contratou uma empresa para fazer um estudo sobre a perspectiva de crescimento entre 2008 e 2025 em toda a região. Um estudo tão sério que o BNDES hoje é sócio em 12% do porto. Não para custear, mas para ser sócio. Sinal de que o estudo é sério. Em cima desse estudo diz que eu vou ter que ter em 15 anos mais 995 salas de aula no município de São João da Barra, mais 660 leitos hospitalares, o que representa seis hospitais de Guarus, em termos de tamanho. Não quer dizer que, com isso, os investimentos tenham que partir todo do Poder Público. Hoje, são só 25 leitos no município; Vou precisar de 84 mil novas residências; eu tenho 15 mil no município.

Como o município está se organizando para essa mudança?
O primeiro ponto, a prefeita Carla Machado é de visão. Ela me pediu para planejar uma cidade para daqui a 20 ou 30 anos. Que eu tenho ciência na minha vida profissional de arquiteto, Carlos de Lacerda fez isso no Rio na década de 60. Ele planejou a linha vermelha, que Brizola fez, Linha Amarela, que César Maia fez, criou o aterro do Flamengo, que liga a Zona Sul do Rio, Copacabana ao Centro da cidade, entre outras melhorias. Então é um político de visão. Se ele não estivesse feito isso, como estaria o Rio hoje? Então, é preciso ter prefeitos, governadores, presidentes que pensem para daqui a 20 anos.

Em que consiste esse planejamento?
Planejamento urbano, com novas vias, novas ruas, novo traçado. Temos que nos preocupar com projetos básicos para o município. Escola padrão, que nós construímos em Cajueiro, na reta de Grussaí, à direita, é projeto meu. Fizemos escola padrão, posto de saúde padrão, creche padrão, projetei um hospital, estamos fazendo agora uma biblioteca de primeiro mundo, um auditório de 600 lugares e estamos fazendo um centro administrativo que na nossa região, nenhuma prefeitura tem. Um ginásio de esporte. Só o que me preocupa é o seguinte: falta saneamento básico, além de micro e macro drenagem. O município é alagadiço. Todo verão ele fica debaixo d’água, porque eu tenho um lençol freático muito na superfície e minha cota de terreno é muito baixa. No Açu, tenho cota negativa de 80 centímetros a um metro. É um problema muito sério, porque eu não posso sair levantando tudo pelo o custo e porque pode gerar um problema ambiental. Contratamos uma empresa, temos parceria com a LLX e com o Governo Estado, para fazer um projeto de todo o município. Tenho que prevê e fazer redes novas, maiores. Se eu estou num município baixo, eu tenho que estudar elevatórias de esgoto, para aonde eu vou tratar e para onde eu vou despejar. Isso é preciso fazer um macroprojeto e depois um microprojeto geral em todo o município. Para isso eu tenho que ter uma malha de ruas para as pessoas transitarem. As minhas ruas são projetadas com 19 metros de largura. Para se ter uma ideia, a Campos-São João da Barra tem sete metros. Uma ciclovia com três metros com mão e contramão.

Algumas dessas projeções já seriam iniciadas em breve, ou fazem parte de planejamento em longo prazo?
Já me perguntaram: ah, mas Carla não vai ter tempo para fazer isso em quatro anos. Não há essa perspectiva de fazer em quatro anos. Houve um probleminha este ano em toda a região com relação a queda dos royalties. Tínhamos uma perspectiva de faturar este ano, R$ 330 milhões no total, e deve chegar, na previsão, R$ 180 milhões; era para estar faturando entre R$ 13 milhões por mês, mas está faturando entre R$ 4 e R$ 5milhões. Criamos o Fundesan, muito parecido com o Fundecam, mas não poderemos colocar para funcionar este ano por falta de recursos. Foi criado, homologado, mas não teremos recursos. Estamos preparando tudo, segundo a prefeita anunciou, e temos R$ 30 milhões em caixa para jogar em obras no segundo semestre.

Fonte: www.monitorcampista.com.br

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