segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Ciro, o plano B


Era tão estupidamente artificial a equação armada por Lula para a escolha do seu sucessor que bastou para abduzi-la a entrada em cena da frágil senadora Marina Silva (PV-AC).
Evaporou-se a eleição sem graça a ser travada entre Dilma Rousseff pelo governo e José Serra ou Aécio Neves pela oposição. Tem Marina. E Ciro Gomes (PSB-CE) vem aí.
No início da semana passada, por encomenda de um aspirante a candidato, ficou pronta a mais recente pesquisa de intenção de voto para a eleição de governador no Distrito Federal.
Quem pesquisa a vontade do eleitor para governos locais não resiste à tentação de perguntar em quem ele votaria para presidente da República. Nada é mais natural.
Deu Serra na cabeça, seguido por Ciro, Marina e Dilma. Empolgado, o próprio Ciro confidenciou a amigos no Congresso os resultados de pesquisa também recente aplicada no Rio de Janeiro.
Deu ele na cabeça, seguido por Serra, Marina e Dilma. Em 2006, Helóisa Helena (PSOL-AL) amealhou 17% dos votos válidos do Rio.
De há muito que Dilma ultrapassara Ciro na série de pesquisas nacionais feitas pelo IBOPE para a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Amanhã, em Brasília, serão divulgados os resultados da mais nova. Ciro está na frente de Dilma, embora ainda à larga distância de Serra. A vantagem dele sobre Dilma é pequena.
A pesquisa IBOPE/CNI está mais ou menos de acordo com pesquisas anteriores dos institutos Sensus e Datafolha. Lula e seu governo mantêm elevados graus de aprovação – embora tenham perdido uns pontinhos. Serra permanece inabalável na faixa dos 40% das intenções de voto em números redondos. O problema se chama Dilma.
Outro dia, no meio de uma roda de interlocutores confiáveis, Lula repetiu o que um governador ouvira dele não faz tanto tempo assim: “Ela não leva jeito pra isso”.
Ela, no caso, é Dilma. Que leva muito jeito para gerenciar iniciativas do governo, menos jeito para comandar pessoas, e nenhum jeito para despertar a paixão dos eleitores.
A vantagem dela é sua desvantagem. Lula é a vantagem - o presidente mais popular da história do país, pai dos pobres e mãe dos ricos. Quem não desejaria tê-lo como cabo eleitoral?
(Ô Ciro Gomes, Ciro Gomes! Não pense que Luiz Inácio vai abandonar Dilma. Não vai não, Ciro Gomes. Lula só abandona aqueles que podem prejudicá-lo.)
Lula é a desvantagem de Dilma porque na comparação com ele não há político que fique bem em parte alguma. Afinal, é “o cara”.
Dilma está para Lula assim como na eleição presidencial de 1960 o marechal Henrique Batista Duffles Teixeira Lott esteve para o sorridente pé de valsa Juscelino Kubistchek, tão bom marqueteiro quanto Lula.
Lott não tinha jogo de cintura, nem diálogo fácil com os políticos, nem orátória capaz de arrebatar os que o ouviam, nem experiência em eleição.
Todos esses atributos também faltam a Dilma. Juscelino fez corpo mole na campanha de Lott, interessado na sua derrota para que pudesse voltar à presidência na eleição seguinte.
Dilma não precisa se preocupar com ardil semelhante. Lula quer elegê-la. Se ela vencer foi Lula que venceu – e ele só não voltará em 2014 a pedido da própria Dilma se não quiser. Quer muito.
Se Dilma perder, foi ela que perdeu apesar do empenho de Lula. Nesse caso, a “Operação 2014 – O Retorno de Lula” não será um êxito de véspera.
Quem cerca Lula jura que não existe Plano B na hipótese de Dilma se arrastar à base de transfusão de votos do seu padrinho. Transfusão tem limites.
Da metade do século passado para cá somente dois presidentes fizeram seu sucessor: Ernesto Geisel fez João Figueiredo e Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso.
Às favas todas as juras.
Como forçar Ciro a sair do páreo se ele tem tantos votos quanto Dilma?
Quem se beneficiaria mais com a retirada de Ciro – Dilma ou Serra?
E se Ciro tiver fôlego para disputar o segundo turno?
Ciro é o Plano B – por ora para ajudar Dilma.

Fonte: Blog do Noblat

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